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POESIA

Gastei uma hora pensando um verso
Que a pena não quer escrever.
No entanto ele está cá dentro
E não quer sair.
Mas a poesia deste momento
Inunda minha vida inteira.
            Andrade, Carlos Drummond de, Alguma poesia, Rio de p.16 Janeiro, Record, 2001


A língua escrita é utilizada com algumas funções básicas. São elas, dentre outras: expressivas, que é utilizada para a expressão individual, centrada no eu. Poética, que foca essas possibilidades expressivas, quando  o autor elabora uma experiência estética.
O texto poético requer um planejamento que varia de poeta para poeta. Uns esperam um certo impulso que é descrito; focam suas interpretações.
Quintana, por exemplo, marca em seu processo de criação, vários elementos do cotidiano e suas lembranças . Enquanto Drummond , no exemplo acima se utiliza dos próprios recursos que surgem no ato de escrever, que dizem respeito ao contexto textual em si .

  
E quais as características de um texto poético?

ESTROFE: é o grupo de versos em que os poetas dividem seus poemas.
RITMO POÉTICO: é resultante de vários recursos formais e linguísticos, entre eles a rima e a métrica.
RIMA: é o jogo sonoro que se constrói por sons semelhantes, ou mesmo iguais usados ao final de cada verso.
MÉTRICA: é o jogo entre o número de sílaba que constituem os versos.



Observação: rima e métrica recebem diferentes valorizações em diferentes escolas literárias. Mas não é só de rima e de métrica que se faz um texto poético. Também o jogo de sílabas tônicas, dos fonemas vocálicos e consonantais e a pontuação desempenham importante papel na obtenção do ritmo poético.

Além dessa musicalidade e melodia do poema, a linguagem poética também explora muito o jogo de sentidos e as ideias figuradas e conotativas.




 Ah, sim, a velha poesia
Poesia, a minha amiga...
Eu entrego-lhe tudo
A que os outros não dão importância nenhuma...
A saber:
O silêncio dos velhos corredores
Uma esquina,
Uma lua
(porque há muitas, muitas luas...)
O primeiro olhar daquela primeira namorada
Que ainda ilumina, ó alma,
Como uma tênue luz a lamparina,
A tua câmara de horrores,
E os grilos?
Sim, os grilos...
Os grilos são poetas mortos.
Entrego-lhe grilos aos milhões um lápis verde um retrato
Amarelecido um velho ovo de costura os teu pecados as reivindicações as explicações – menos
O dar ombros e os risos contidos
Mas
Todas as lágrimas que o orgulho estancou na fonte
As explosões de cólera
O ranger de dentes
As alegrias agudas até o grito
A dança dos ossos...
Pois bem...
Às vezes
De tudo quanto lhe entrego,
A poesia faz uma coisa que parece que nada tem a ver com os ingredientes mas que tem por isso mesmo um sabor total: eternamente esse gosto de nunca e sempre 


                                                   Quintana, Mário, Nova antologia, São Paulo, Globo, 1981,p.92 93

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